
Gosto de escrever à noite.
Enquanto a cidade dorme, traduzo meus sentimentos em palavras desconexas. Sensações vêm e vão, e carregam consigo a chuva forte e repentina do outono. Inquieta, deixo de lado o papel quando ouço o barulho da água batendo na janela. Abro, e a deixo entrar.
Me inclino vagarosamente para o lado de fora da janela.
Sinto os pingos frios molhando meu rosto. Cerro os olhos, e não sinto a presença das minhas companheiras. Entristeço.
Ouço me chamarem, implorando por uma canção. A mais bela que meus sentimentos pudessem compor naquele instante. Dedilho nas gotas d'água que caem, e as embalo na melodia que meus lábios úmidos murmuravam. A chuva cessa, as estrelas se vão. Restamos eu, o papel, as palavras. Volto a escrever. Por detrás do vidro opaco, elas me observam...
Novamente, estou preenchida. Eis que o amor inunda meu ser.